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  • Foto do escritorFabrício Girão

Em Pobres Criaturas, Emma Stone e Yorgos Lanthimos debocham e rejeitam a sociedade polida - Crítica do Almanaque Disney

Novo longa do diretor grego chega ao cinemas brasileiros nesta semana, impulsionado por 11 indicações ao Oscar 2024, incluindo Melhor Filme.


Emma Stone em cena de Pobres Criaturas
Divulgação/Searchlight Pictures

Pobres Criaturas, novo filme de Yorgos Lanthimos que chega quinta-feira aos cinemas com a boa publicidade gerada pelas 11 indicações ao Oscar 2024, é um filme muito claro sobre seus temas, discussões e provocações, que abordam as diversas faces da libertação feminina. E é justamente essa firmeza da abordagem, ancorado por um trabalho robusto de direção e chefiado pela atuação assombrosa de Emma Stone, que faz do filme um dos mais criativos e divertidos do ano.


Stone interpreta Bella Baxter, uma mulher que foi trazida de volta à vida pelo cirurgião com ares de cientista louco Godwin Baxter (Willem Dafoe). Com mentalidade infantil no corpo de uma mulher já adulta, ela se desenvolve intelectualmente em ritmo acelerado, fato demarcado pela velocidade com que o cabelo dela cresce, entre outras características.



É a partir dessa evolução apresentada em tela, indo de um grande bebê com fala limitada para uma mulher que discute filosofia e liberdade sexual, que Emma Stone se coloca em um dos maiores desafios de sua carreira, e triunfa de forma singular. A interpretação dela não é só tecnicamente muito precisa, fruto de parceria e intimidade com Lanthimos, mas é inclusive divertida de se acompanhar. Stone traz veracidade para uma história com ares surreais, e esbanja um alcance de atuação absurdo conforme Bella vai progredindo a cada cena.


Divulgação/Searchlight Pictures

A discussão sexual ocupa um lugar muito central em Pobres Criaturas, tendo em vista que é primeiro a partir dela que Bella se sente mais determinada em romper com o controle de seu pai, que a mantém presa em casa. Junto com Duncan Wedderburn, ela quer conhecer o mundo e descobrir mais de si no processo. Mark Ruffalo está hilário como o personagem, um cafajeste patético que se aproveita da inocência de Bella e que depois é subjugado pela inteligência dela.



Pobres Criaturas é narrado com uma atmosfera de estranheza e de desconforto também presente em outros trabalhos de Yorgos Lanthimos, como A Favorita e O Lagosta. Aqui, ele usa de um design de produção exuberante para criar cenários que dão tons de fantasia para lugares reais como Londres e Lisboa, e uma fotografia que se inicia em preto e branco e que então explode em cores fortes à medida que Bella descobre mais do mundo.


Essas escolhas visuais fortes, aliadas ao roteiro que narra a libertação de Bella da sociedade polida, ou seja, a sociedade que espera que ela se comporte e responda ao mundo de uma certa maneira, ditam o tom transgressor dessa história. Esse poderia ser o mundo real, mas a atmosfera excêntrica e absurda, dos cenários aos enquadramentos escolhidos por Lanthimos, constantemente te lembram que não.


Divulgação/Searchlight Pictures

Nesse sentido, a jornada de Bella Baxter é de descoberta e ruptura. Quanto mais ela descobre, mais ela quer romper. Seja romper com as figuras masculinas que querem dominá-la ou controlá-la, Godwin ou Duncan cada um com suas intenções, ou com o sistema que explora as pessoas pelo trabalho. E nessa descoberta, o sexo representa conhecimento para Bella, e Lanthimos não se esquiva de mostrá-lo e de reconhecer e enfatizar seu impacto.



Só que Lanthimos também é bem cuidadoso para que Pobres Criaturas não caia no condescendente. A mensagem é clara, direta e abordada em muitas frentes. Mas o filme equilibra a discussão com momentos mais leves, excelentes tiradas cômicas e cenas em que Bella pode apenas ser, agindo da forma que ela bem entende. É o caso da excelente cena da dança, em que Emma Stone se mostra gigante novamente.


Pobres Criaturas, como sua protagonista, rejeita a sociedade polida que impõe limites e comportamentos ao ser. E não satisfeito apenas em romper com essas normas, Yorgos Lanthimos se vale do absurdo, do excêntrico, do desconfortável e do sujo para debochar das pessoas tão limitadas em mais um filme delicioso.




Pôster oficial de Pobres Criaturas

Pobres Criaturas

Ano: 2023

Direção: Yorgos Lanthimos.

Elenco: Emma Stone, Willem Dafoe, Mark Ruffaloe Rami Youssef.


Emma Stone apresenta uma das atuações mais impressionantes de sua carreira em Pobres Criaturas, uma história de libertação.


Nota: 5/5

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