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Foto do escritorFabrício Girão

Elementos: Crítica do Almanaque Disney

Nova animação da Pixar encanta com comédia romântica com personagens apaixonantes, mas não se aprofunda nas temáticas e no universo criado.

Faísca e Gota em cena de Elementos, da Pixar
Divulgação/Pixar Animation Studios

Ainda que Lightyear tenha marcado a volta da Pixar aos cinemas depois de três lançamentos seguidos no Disney Plus, Elementos, que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (22), também funciona como uma espécie de retorno para o celebrado estúdio: é a primeira animação original da Pixar a ser lançada nos cinemas desde Dois Irmãos, que estreou apenas semanas antes da pandemia de Covid-19 ser declarada.


O filme também tem o retorno de Peter Sohn como diretor em um longa-metragem do estúdio, depois de substituir Bob Peterson na direção do fraco O Bom Dinossauro. Aqui, ele ganha a oportunidade de contar uma história muito inspirada em sua própria vida, como filho de pais imigrantes que deixaram a Coreia do Sul para viver uma nova vida em Nova York.



A diferença de Elementos para a vida real é que o universo do filme é povoado por seres que são os próprios quatro elementos: fogo, água, terra e ar. Eles vivem em uma grande e colorida metrópole, a Cidade Elemento, que se torna o cenário de uma história de amor entre Faísca, a jovem de fogo cuja família veio de longe procurando novas perspectivas, e Gota, um rapaz de água criado na cidade grande.


Como comédia romântica, Elementos se usa do melhor do subgênero e encanta com o desenrolar de um relacionamento improvável e impossível, mas que faz seus protagonistas crescerem durante o processo. Já como comentário social sobre imigração, segregação e preconceito, o filme não atinge seu potencial completo, sendo repetitivo quando poderia ser mais profundo.


Faísca e Gota em cena de Elementos, da Pixar
Divulgação/Pixar Animation Studios

A química de Faísca e Gota


Elementos usa a máxima de que os opostos se atraem de forma literal, ao narrar o romance entre água e fogo. Só que Gota e Faísca são muito mais interessantes que essa premissa básica. Eles têm diferenças que vão desde a visão de mundo até a forma com que lidam com suas emoções, seus sonhos e suas vontades.


Ela, como filha de imigrantes que abriram mão do lar para tentar a vida em um outro lugar, sente o peso de uma obrigação de ter que corresponder aos sacrifícios feitos pelos pais e de ter que retribuir isso de alguma forma. Ele, como rapaz que cresceu em uma cidade pensada na população de água, não se sente deslocado e leva a vida de forma mais leve.



Como parte da criatividade da Pixar, os personagens ganham características que refletem a essência natural deles: Faísca é mais esquentada, tendo problemas com o controle da raiva, e Gota é muito emotivo, não consegue esconder os sentimentos por ser muito transparente.


Assisti-los lentamente se apaixonarem, e se transformarem no processo, removendo inseguranças, ampliando as visões de mundo um do outro e construindo uma história juntos é certamente o ponto alto de Elementos. A Pixar entrega uma comédia romântica com tudo que esse tipo de filme pressupõe, e com dois protagonistas apaixonantes. O romance entre Gota e Faísca ganha força e contornos reais porque o texto permite que eles sejam vulneráveis, falhos e autênticos. Eles são, mesmo sendo elementos vivos, muito humanos.


Névoa, Faísca e Gota em cena de Elementos, da Pixar
Divulgação/Pixar Animation Studios

Discussões ficam pelo caminho


Se Elementos trabalha bem o romance, ele parece não ter ideia de como conduzir as temáticas sociais apresentadas pela narrativa, e nem aproveita os ambientes da Cidade Elemento de forma que haja uma imersão naquele universo.


Veja bem, o filme de fato levanta discussões pertinentes e que refletem problemáticas sociais do mundo real, como os melhores filmes da Pixar, mas traz uma visão muito limitada desses temas, nunca se debruçando sobre eles com a atenção e a profundidade que mereciam.



Sim, Faísca tem sonhos diferentes de seus pais, mas o filme não consegue sair da dinâmica de: os pais colocam sobre ela as expectativas, ela se sente sufocada e obrigada a corresponder. Ao invés de dar aos personagens diferentes momentos em que isso poderia ser explorado de maneiras variadas, o filme repete a mesma dinâmica do início ao fim, e até os diálogos soam repetitivos.


Ao mesmo tempo, Elementos ensaia um comentário sobre segregação social ao mostrar que a Cidade Elemento não é receptiva com os seres de fogo, e tem arquitetura e espaços que privilegiam os seres de água. Só que com exceção do motivo por trás do passeio subaquático de Gota e Faísca, o longa não oferece momentos significativos que coloquem essa discussão em maior evidência, e os personagens apenas aceitam tudo que já está estabelecido.


Gota e Faísca em cena de Elementos, da Pixar
Divulgação/Pixar Animation Studios

Filme apaixonante


Mesmo com as ressalvas apontadas, Elementos emociona dada a ótima construção de seus protagonistas, a jornada de crescimento deles e a natureza muito humana do relacionamento que eles compartilham. Não é um dos melhores ou mais ousados filmes da Pixar, mas ainda é uma animação muito sólida sobre se permitir descobrir novas coisas, encontrar seu caminho, honrar os que vieram antes de você e se apaixonar intensamente no processo.


Você não sabia que precisava ver a Pixar fazendo uma comédia romântica até se apaixonar por Faísca e Gota.


Pôster de Elementos, da Pixar.

Elementos

Ano: 2023

Direção: Peter Sohn

Elenco: Leah Lewis, Mamoudou Athie, Ronnie Del Carmen, Shila Ommi, Wendi McLendon-Covey e Catherine O'Hara.


Ainda que não desenvolva seus temas com a profundidade e o cuidado que são esperados de uma produção da Pixar, Elementos encanta com comédia romântica apaixonante ao narrar o amor de Gota e Faísca.


Nota: 3.5/5

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