Sequência da Disney Animation era série de TV que foi retrabalhada em filme, e que empolga apesar de não ter o brilhantismo do primeiro longa.
Em 2016, ouso dizer que ninguém na Disney Animation tinha dimensão do fenômeno gigantesco que eles tinham em mãos. Eles podiam inclusive achar isso de Zootopia, filme original lançado em março daquele ano que somou mais de um bilhão de dólares em bilheteria e que ganharia o Oscar de Melhor Animação no ano seguinte.
Mas foi Moana, lançado meses depois, que se tornou um grande fenômeno cultural com o passar dos anos, se tornando o filme mais assistido via streaming nos Estados Unidos em 2023, sete anos depois de seu lançamento. A popularidade de Moana hoje é tamanha que ela se tornou uma das principais franquias da Disney, rivalizando com Frozen.
Dito isso, causa estranheza pensar então que o estúdio considerou continuar a história da princesa em uma série no Disney+, ao invés de uma grande sequência para os cinemas. E, por consequência, foi menos surpreendente receber a notícia de que o projeto foi retrabalhado em um filme para o cinema, dado o histórico recente de fracassos financeiros da Disney Animation: Wish, Mundo Estranho e Encanto (com o desconto de que esse pegou a reta final da pandemia e depois explodiu no streaming).
E é com todo esse contexto, causador de bastante preocupação e ceticismo por ser um projeto que mudou de formato há cerca de um ano, que Moana 2 chega aos cinemas brasileiros nessa semana. Diferente de Divertida Mente 2, o novo Moana falha em se colocar a altura da grandeza do filme original, tanto pelo nível de excelência do primeiro quando por deméritos do segundo, mas ele ainda é capaz construir uma história que empolga e emociona, honrando a trajetória e o crescimento da própria Moana.
Os obstáculos no caminho
Os principais elementos que impedem Moana 2 de pelo menos alcançar o nível do primeiro são claros e, de forma geral, três: ele não tem a mesma força narrativa, as músicas não são tão impactantes e o filme não tem mais Musker e Clements na direção.
Começando pelo último ponto, é importante comentar que o trio de diretores formado por Dave Derrick Jr, Jason Hand e Dana Ledoux Miller (todos estreantes) faz um trabalho competente ao resgatar a beleza do universo de Moana e a sensação empolgante de navegar com a personagem, mas lhes falta o olhar especial de Musker e Clements (agora aposentados da Disney Animation), capaz de elevar até as cenas mais comuns e deixá-las marcantes, memoráveis.
A transição de série para filme também não parece ter sido das mais suaves. Visualmente, o longa repete a beleza estonteante e as cores vivas do primeiro, com destaque especial para o nível de detalhe na água e nos cabelos dos personagens, que foram vitrines do avanço tecnológico da animação no primeiro Moana. Mas na narrativa ele engasga, com cenas excessivamente longas que parecem ter saído direto de episódios da série.
Os arcos narrativos funcionam de forma tão episódica que você quase consegue dizer onde um episódio da série termina e o outro começa. No entanto, o início mais instigante e a conclusão emocional dão mais fôlego ao filme, e compensam essa oscilação narrativa.
Por fim, as músicas compostas pela dupla Barlow & Bear não chegam a ser ruins (só a música do Maui, essa é ruim MESMO), mas são bem inferiores quando comparadas às canções do primeiro filme, que se colocam entre as melhores em todo o histórico da Disney Animation. As únicas exceções são Além, solo da Moana que acerta muito ao apostar em um tom mais intimista, quase sombrio, onde ela externa o receio em partir, e Só Vai, música super criativa e cheia de energia da Matangi, que atinge o nível de brilhantismo musical do primeiro. Inclusive, esse filme deveria ter mais Matangi, que é uma personagem fantástica.
O que funciona
Mas nem só de erros se faz essa sequência e, na verdade, os acertos acabam por dar um equilíbrio e tornar a experiência positiva como um todo. O principal deles está na construção da própria Moana, que retorna mais velha e portanto mais ciente dos riscos que corre e do que tem a perder. Isso fica evidente na relação dela com Simea, sua irmãzinha de apenas três anos. Mais do que qualquer outra pessoa, Simea é alguém que prende os pensamentos da navegadora em Motonui.
Moana 2 traz um desenvolvimento natural para a história da protagonista, que depois de honrar seus ancestrais e recuperar o modo de vida navegador deles, precisa agora fazer o que nem eles conseguiram. Isso não só aprofunda e enriquece o universo da franquia mas também coloca a aventura em outro patamar, aumentando o escopo do longa e o tornando empolgante.
Maui e Moana, que já eram grandes personagens, ganham mais espaço para fortalecer a amizade única que têm e a dinâmica entre eles, sempre com muito humor mas também com respeito e admiração mútuos, é a melhor coisa do filme. A adição de ótimos personagens, como as já citadas Simea e Matangi, mas também a equipe de Moana, trazem outras dinâmicas para a protagonista e renovam a trama em relação ao primeiro.
A sequência também traz, de forma mais rica, a cultura das ilhas do pacífico e a importância da ancestralidade na jornada de Moana. As canções em línguas polinésias, escritas por Opetaia Foa'i e Mark Mancina, ganham mais espaço nesse segundo filme e dão ainda mais emoção pra cenas que ressaltam a força do coletivo.
Eu sou Moana
Mais cuidado com a condução da narrativa e da elaboração musical poderiam ter feito Moana 2 se equiparar ao incrível primeiro filme, mas a sequência ainda consegue trazer uma aventura que honra o caminho que a navegadora já percorreu, e todo o restante do oceano que ela ainda tem para desbravar. É um filme que empolga quando precisa empolgar e que tem um investimento emocional palpável ao falar sobre recuperar conexões e superar o isolamento que nos divide.
Moana 2
Ano: 2024
Direção: Dave Derrick Jr., Jason Hand e Dana Ledoux Miller.
Elenco: Auli'i Cravalho, Dwayne Johnson, Rose Matafeo, Hualalai Chung, David Fane e Awhimai Fraser.
Moana 2 não se compara à excelência narrativa e musical do primeiro, mas ainda traz uma aventura que honra a personagem e sua jornada.
Nota: 4/5
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