Os Roses atualiza história com humor perverso que permeia o desgaste crescente em um casamento
- FabrÃcio Girão
- 25 de ago.
- 3 min de leitura
Novo filme com Benedict Cumberbatch e Olivia Colman traz história de casal que transforma o divórcio em um campo de batalha sem escrúpulos.

Apesar de conter alguns momentos genuinamente engraçados, A Guerra dos Roses, de 1989, é um longa que traz sempre um tom de seriedade para a história do um casal em pé de guerra cujo divórcio se transforma em campo de batalha. Michael Douglas e Kathleen Turner conversam bem com essa linha tênue que o filme apresenta: onde acaba o humor e onde podemos começar a realmente temer pela vida dessas pessoas?
Ao trazer essa história para 2025, Os Roses: Até que a Morte os Separa, opta por fincar os pés na comédia e estabelecer que essa sátira sobre o fim de um relacionamento de anos vai continuar sendo sádica e perigosa, mas com predominância cômica durante toda a duração. Isso não só separa bem a nova versão do longa anterior, mas também abre caminho para que o filme de Jay Roach encontre uma identidade e força próprias.
Os Roses acompanha o casal Theo e Ivy, deliciosamente interpretados por Benedict Cumberbatch e Olivia Colman. Após uma década de casamento e algumas viradas nas vidas pessoais e profissionais, o relacionamento entre o arquiteto e a chef de cozinha se desgasta a um ponto irreversÃvel, e a disputa para ver quem cede primeiro vai escalando por caminhos perigosos e potencialmente mortais.
Diferente do longa de 1989, Os Roses se dedica a construir de forma bem detalhada todos os pontos do relacionamento entre Theo e Ivy, desde a paixão avassaladora no primeiro encontro até a divisão das tarefas de casa e do cuidado com os filhos. Essa abordagem permite ao espectador identificar, desde os primeiros momentos, os pequenos ruÃdos e diferenças que, ao serem ignorados, vão evoluindo em problemas cada vez maiores.

Casamento em pé de guerra
Theo e Ivy são qualquer casal. Os problemas entre eles começam ordinários, extremamente mundanos do ponto de vista cotidiano. Mas as personalidades difÃceis de ambos contribuem para potencializar as situações, que vão saindo do controle. De primeira, ele nutre uma inveja da mulher bem sucedida que ela está se tornando. E ele se mostra até autoconsciente disso, mas ainda assim não consegue evitar de se sentir dessa forma. Já ela menospreza boa parte dos gostos e interesses dele, se colocando com uma frieza superior que machuca sem que ela sequer perceba.
Quando essas caracterÃsticas se somam com um orgulho soberbo de ambos os lados, a bomba-relógio é preparada e o casamento tem um prazo definido. Colman e Cumberbatch, dois mestres da atuação que já provaram seu talento e versatilidade inúmeras vezes, emprestam para Ivy e Theo uma humanidade muito genuÃna, nos olhares que não conseguem esconder o descontentamento, na energia que ambos colocam nas coisas que gostam e no excelente timing cômico.
Para além das atuações inspiradas, o roteiro de Tony McNamara (Pobres Criaturas) não deixa a peteca cair ao ser capaz de, durante toda a trama, manter o filme sempre muito engraçado com piadas ou situações criadas a partir de um senso de humor perverso bem aguçado, e mergulhar de fato em uma análise sobre o que faz um relacionamento morrer, ao explorar como a comunicação (ou a falta dela) ajuda o desgaste a progredir.
Ao serem absolutamente desprezÃveis um com o outro, Theo e Ivy parecem reencontrar uma chama que perderam ao longo dos anos, e é como se essa energia caótica e direcionada um contra o outro renovasse o interesse mútuo. Aos poucos, o que era amor vai se tornando ódio, um sentimento igualmente poderoso.
A transição entre o que poderia ser uma situação normal entre casais e a sátira exagerada acontece de forma suave porque Os Roses têm sua história contada de forma muito focada e porque a dupla principal caminha com esses personagens de uma forma que até a entrega deles à loucura completa parece algo verÃdico. O resultado é hilário, um tanto reflexivo e diversão garantida no cinema.

Os Roses: Até Que a Morte os Separe
Ano: 2025
Direção: Jay Roach
Elenco: Olivia Colman, Benedict Cumberbatch, Andy Samberg, Kate McKinnon e Ncuti Gatwa.
Os Roses deixa de lado a seriedade para investir em um humor perverso, mas afiado e atual, em ótima história sobre desamor.
Nota: 4/5