Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda vai além da nostalgia barata em comédia atual e afiada

Fabrício Girão
5 de ago.
3 min de leitura

Lindsay Lohan e Jamie Lee Curtis retornam como Anna e Tess depois de mais de 20 anos, em uma nova (e muito engraçada) confusão familiar.

Cena de Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda — Divulgação/Walt Disney Studios

As sequências de legado têm sido uma aposta segura em Hollywood para levar o público às salas de cinema através da nostalgia e do resgate de uma história que já é familiar. Em alguns casos, como no excelente Top Gun: Maverick, esse reencontro com personagens e universos já conhecidos é recompensador. Mas, na grande maioria das vezes, essas sequências se agarram somente na nostalgia e acabam por ser meras repetições ocas de seus primeiros filmes.

Nesse sentido, é de certa forma surpreendente dizer que Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda está muito mais alinhado com os casos que deram certo. Na sequência de Sexta-Feira Muito Louca, que chega aos cinemas nesta semana mais de 20 anos depois do primeiro, a Disney conseguiu ir além da nostalgia barata com uma história afiada e atual que entende as forças do filme original e que cria novas discussões a partir da maternidade moderna.

É uma comédia muito engraçada feita nos moldes dos filmes dos anos 2000 mas que também não se deixa limitar só a isso, atualizando a família Coleman em uma nova troca de corpos, em uma nova estrutura familiar e na era das redes sociais, que traz outros desafios com os adolescentes. Como esperado, Jamie Lee Curtis e Lindsay Lohan repetem a química mágica e voltam para Tess e Anna como se nunca as tivessem deixado, trazendo a maturidade de suas experiências pessoais.

Troca dupla

Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda se beneficia do tempo que se passou, no mundo real e no universo do filme, para trazer de novo a maternidade ao centro da trama. Só que, dessa vez, em múltiplas frentes. Anna agora é mãe solteira de uma adolescente, a rebelde Harper (Julia Butters), e tenta entender a melhor abordagem para lidar com as questões da filha. Enquanto isso, Tess se vê no papel da avó que quer se firmar como parte importante da rede de apoio das duas, mas que acaba por minar a autoridade da filha com neta.

Se essas três gerações não fossem o suficiente, há também a chegada de Lily (Sophia Hammons), adolescente da mesma idade de Harper que é filha de Eric (Manny Jacinto), chef de cozinha bem sucedido que se torna noivo de Anna. Com o casamento, as famílias irão se juntar e as garotas, que se odeiam, passarão a ser irmãs.

E é entre esse conflito geracional e na formação de uma nova família que uma troca quádrupla mostra para essas personagens que elas têm muito a aprender umas com as outras. A partir daí, Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda nada de braçada em uma comédia afiada que funciona muito bem ao reunir esse quarteto de atrizes em muita sintonia com um texto que reforça o tamanho do gap entre gerações, potencializado pelo avanço da tecnologia.

Julia e Sophia, apesar de novatas, mandam bem como Anna e Tess presas nos corpos das adolescentes Harper e Lily, e sustentam as personagens com bastante presença frente às atrizes veteranas. Já Lindsay e Jamie Lee fazem o que sabem de melhor, e atravessam a tela com o tanto que elas se divertiram interpretando duas adolescentes nos corpos de mulheres adultas. Jamie Lee, em especial, eleva o que ela fez no filme anterior a potência máxima e rende as melhores risadas no filme inteiro.

Sinceridade que emociona

Se a história com o avanço temporal e a comédia bem trabalhada são ingredientes que funcionam, o que faz de Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda um acerto completo é que o filme também vem carregado de uma mensagem emocional que, apesar de clichê, permanece relevante.

Ao retratar um casamento de pais solteiros, uma nova família que se forma e uma avó tentando encontrar seu papel nesse contexto, o filme cria um apelo multigeracional ancorado nas verdades de que não existem respostas fáceis para solucionar problemas familiares e que mesmo as ações bem intencionadas podem mais atrapalhar do que ajudar.

E é justamente esse senso de novidade que leva Uma Sexta-Feira Mais Louca Ainda muito além da nostalgia barata, encontrando o que faz dessa história sobre ver os diferentes pontos de vista ainda ser tão importante. Em tempos de muita divisão e pouco diálogo, a lição de se colocar no lugar do outro é mais atual que nunca.